Mil dias para o primeiro óleo: um desafio tecnológico

O diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Carlos Alberto Pereira de Oliveira, lançou o “desafio da velocidade” no primeiro painel do 2º Fórum Técnico Pré-Sal Petróleo, apresentando a ambiciosa meta da empresa de reduzir o tempo entre a descoberta e o primeiro óleo dos atuais até três mil para mil dias. Para a Petrobras, a meta dos mil dias cristaliza a velocidade de implantação dos projetos como o maior desafio a ser vencido pela conjugação de tecnologia e cooperação Estado-empresas de modo a antecipar resultados e maximizar valores.

Oliveira ressaltou que abreviar etapas e acelerar a produção “é positivo para as empresas e para a União”. Para ele, a concentração de esforços nesse objetivo pode, por exemplo, contribuir para que as participações governamentais geradas pela produção de petróleo pelo regime de partilha da produção cheguem antes de 2055 aos R$ 2,3 trilhões.

Este número foi apresentado na abertura do Fórum, em palestra feita pelo presidente da Pré-Sal Petróleo, Eduardo Gerk, como projeção a partir do estudo realizado pela área de Planejamento Estratégico da empresa, em colaboração com a Agência epbr. O estudo, concentrado no período 2020-2032, estimou o valor das participações governamentais no período na cifra de R$ 1 trilhão. O diretor da Petrobras previu que já em 2025, com uso de tecnologias disruptivas, será possível descobrir petróleo sem necessidade de perfurar um poço exploratório.

O diretor Técnico e de Fiscalização da Pré-Sal Petróleo, Paulo Carvalho, que moderou o painel, mostrou que há total afinidade entre os esforços das empresas e consórcios que já assinaram contratos no regime de partilha da produção e o objetivo primordial da companhia estatal, que é “maximizar o valor do petróleo do pré-sal para a União”. Carvalho enfatizou que essa afinidade está resumida no simples fato de que “não se consegue maximizar os resultados para a União sem maximizar para todos”.

“Como já foi dito aqui, o tempo é muito importante”, disse o gerente Técnico de Subsuperfície no Projeto Carcará da Equinor, Lars Jetlund Hansen, ao apresentar o trabalho que a companhia norueguesa vem fazendo para extrair o primeiro óleo do contrato do Norte de Carcará em 2023. A previsão oficial é que a produção deva se iniciar em 2024. De acordo com o executivo, a entrega do Plano de Desenvolvimento da área está prevista para o primeiro semestre de 2020. Norte de Carcará é uma parceria da Equinor (operadora), com 40%, ExxonMobil Brasil, com outros 40%, e Petrogal Brasil, com 20%.

Hansen destacou que a melhor solução tecnológica para o desenvolvimento mais produtivo de Carcará Norte, ao menos na conjuntura atual, é pela via da reinjeção do gás produzido, com injeção adicional de água, sem abandonar os estudos sobre a possibilidade de comercialização futura da produção de gás do campo. A informação do técnico da Equinor reforçou a afirmação feita momentos antes por Carvalho, da Pré-Sal Petróleo, de que, de acordo com os dados disponíveis, construir agora a infraestrutura necessária à comercialização do gás “inviabilizaria economicamente os campos”.

Bruno William, engenheiro de Perfuração de Poços e Líder de Transformação Digital da Shell Brasil, disse que a empresa vem trabalhando na criação de valor pela via da otimização da perfuração e completação de poços. A Shell Brasil está nos contratos de partilha do pré-sal como operadora do campo de Saturno, do qual detém 50% do capital (os outros 50% são da Chevron), e no de Três Marias, onde detém 40%, em parceria com a Petrobras (operadora, 30%) e a Chevron (30%).

William disse que tanto na condição de operadora como na de parceira, a Shell está desenvolvendo 107 iniciativas em diferentes níveis de operação que têm como objetivo principal reduzir o impacto do tempo de exploração e desenvolvimento, na linha de acelerar a produção e ganhar velocidade no retorno financeiro. Uma dessas iniciativas da Shell busca alcançar a completação de um poço no pré-sal em apenas 26 dias.

Todo esse discurso concentrado na velocidade das ações tem um objetivo que ficou implícito no painel que é a maximização do retorno em uma conjuntura de transição para uma economia baseada em energias limpas e renováveis. O que se busca é utilizar os recursos da indústria 4.0 como alternativas para monetizar a riqueza dos hidrocarbonetos paralelamente a esse processo de transição.

Na palestra que encerrou o painel, Adriano Bastos, presidente da BP Upstream Brasil, disse que a BP sente-se confortável para falar dessa transição porque ela mesma já transitou da condição de empresa de petróleo para empresa energética. “O que nos trouxe até aqui não vai nos levar ao futuro”, disse o executivo, ressaltando a necessidade de conjugar novos processos produtivos com estabilidade jurídica que garanta os investimentos no longo prazo.

A BP Energy lidera o consórcio do campo de Pau-Brasil como operadora e detentora de 50% do capital, em parceria com a Ecopetrol (20%) e a CNOOC Petroleum (30%). Bastos disse que Brasil é considerado um exemplo mundial pela limpeza da sua matriz energética e afirmou que o gás será um elemento importante para acelerar a transição em curso, defendendo a monetização da molécula, seja pela via da comercialização ou da reinjeção.