O cenário brasileiro e os desafios da indústria do petróleo

A busca por novos campos gigantes foi o tema central do último painel do 2º Fórum Técnico Pré-Sal Petróleo e um dos consensos dos palestrantes foi de que o Brasil tem um papel relevante no cenário das futuras descobertas. Fizeram parte do painel Pedro Zalan, diretor da Zag Consultoria; Ricardo Bedregal, diretor de Pesquisa e Consultoria da IHS Markit; José Mauro Coelho, diretor de Estudos do Petróleo, Gás e Biocombustíveis da Empresa de Pesquisa Energética (EPE); e o diretor de Administração, Controle e Finanças da Pré-Sal Petróleo, Samir Awad, moderador dos debates.

O potencial exploratório do pré-sal, bem como seus impactos sobre a geopolítica do setor, pode ser analisado em conjunto com questões como restrições da infraestrutura e logística, a competitividade da indústria brasileira e a expectativa em relação à velocidade da monetização das novas descobertas de óleo e gás natural, comentou Awad.

Segundo Awad, em uma década, o pré-sal saiu de uma produção de 100 mil barris por dia para cerca de dois milhões de barris por dia, velocidade que tem sido crescente e que revela a importância de investimentos em infraestrutura voltados, por exemplo, para o escoamento de gás e petróleo. E, conforme alertou, atualmente, já há gargalos, que aumentarão com as futuras descobertas de reservas. “Não se consegue produzir 2 milhões em 10 anos sem as dores do crescimento”, disse.

Pedro Zalan trouxe para o debate o potencial de novas reservas do pré-sal, além dos limites das áreas conhecidas de produção e de blocos exploratórios concedidos até então (ultra-fronteiras). Até o momento, no pré-sal, a Petrobras já descobriu cerca 40 bilhões de barris de óleo equivalente recuperáveis entre recursos provados e contingentes, mas, segundo ele, o potencial ainda não explorado é extraordinário. Considerando o valor inferior da faixa de incerteza estimada de alguns dos maiores prospectos mapeados, algo entre 20 e 30 bilhões de barris de óleo equivalente podem ser descobertos nas áreas ultra-fronteiras. Os dois maiores complexos mapeados foram o Puri (3,3 mil km) e Xavante (5 mil Km), situados para além das 200 milhas náuticas. Puri já está escalado para a 17Rodada da ANP. “A probabilidade de descoberta de campos super-gigantes e gigantes nas ultra-fronteiras existe, e é alta”, disse.

Ricardo Bedregal expôs questões ligadas ao futuro da indústria brasileira de petróleo em um cenário global cada vez mais desafiador e concluiu mostrando que o Brasil reúne condições, no curto e longo prazo, para ser relevante no mercado internacional. Entre as variáveis relacionadas por ele que influenciam a demanda e os preços do petróleo, fundamentais portanto para analisar a posição brasileira no mapa do setor, estão: panorama global, como o aumento da produção e das exportações dos Estados Unidos e o acordo da Opep com o Clube de Viena, que resultou em corte de produção e correlata pressão sobre preços; o cenário político e econômico da América Latina, alterando a geopolítica do petróleo na região; e as recentes reformas realizadas no Brasil. Bedegral observou que a conjuntura internacional vem pressionando os preços do petróleo, sobretudo em função da redução do ritmo de crescimento econômico global e de seus efeitos sobre a demanda de óleo e gás. Caso os preços se mantenham nos próximos dois anos, a produção americana tenderá à estabilidade, ou mesmo a uma queda.

O Brasil, segundo Bedegral, fez o dever de casa, realizando as reformas possíveis para aumentar a competitividade e o dinamismo da indústria do petróleo. “Ainda há desafios a serem vencidos, mas isso claramente modificou a percepção de risco do Brasil em relação à indústria global”, disse, referindo-se a um mapeamento das posições dos países latino-americanos no setor de óleo e gás, com base nas questões políticas, legais e econômicas.

“Antes das reformas, o Brasil estava na posição 52, comparado aos demais países, onde um é o melhor. Agora, passou para a posição 41, mostrando vantagem competitiva em relação aos seus vizinhos”, concluiu. Mas há desafios, entre eles o de explorar a competitividade do gás do pré-sal, superando atuais restrições.

Os desafios para a infraestrutura de escoamento na maximização do valor das reservas de óleo e gás do pré-sal foi o tema abordado por José Mauro Coelho, da EPE. A produção de gás natural brasileira, segundo projeções da EPE, deve crescer significativamente até 2030, liderada, sobretudo, pela produção nos campos do pré-sal. Apesar disso, há desafios a serem enfrentados. O Brasil produziu em 2018, 2,6 milhões de barris por dia petróleo, e as projeções da EPE apontam para uma produção de 5,5 milhões em 2030. Ou seja, dobrará sua produção em apenas 10 anos, situando-se entre os cinco maiores produtores e exportadores de petróleo do mundo, com mais 3 milhões de barris por dia. Mais do que a produção atual. É preciso, portanto, atenção especial para a investimentos em logística e infraestrutura adequadas, a fim de garantir a geração de valor da produção futura.

Em relação ao gás natural, a EPE projeta uma produção bruta de 261 milhões de metros cúbicos por dia em 2030 (no ano passado foi de 112 milhões de metros cúbicos/dia). Apesar dos números positivos, há desafios para essa oferta de gás natural. Um dos principais, segundo Coelho, reside em como monetizar o gás do pré-sal, efetivamente.

“Temos os desafios em relação ao teor do CO2. Muitos campos do pré-sal têm concentração de CO2 diferentes de outras regiões, com características específicas, podendo chegar até 80% na composição do gás”, disse ele, acrescentando que a agenda brasileira para 2030 deve incluir investimentos em tecnologias que permitam a mitigação do elevado teor de CO2 do gás natural dos novos campos e em infraestrutura para equacionar problemas de gargalo de escoamento e da distância entre os campos e a costa.